Economias e Jabuticabas

Um país com mais de 300 anos sob o domínio colonial herda muitas marcas. Creio que no Brasil uma das principais heranças seja o colonialismo intelectual. Todo brasileiro é capaz de levar a sério idéias completamente idiotas ou inapropriadas ao tema, desde que tenha o aval dos “superiores” cérebros do norte.

Um dos exemplos mais caricatos se dá com a chegada da corte ao Brasil em 1808. Junto com objetos absolutamente inúteis ao clima tropical como casacos de pele e esquis para a neve, as senhoras da corte trouxeram lencinhos na cabeça para disfarçar a careca provocada por uma infestação de piolhos. O mais hilário é que as damas do Rio de Janeiro passaram a utilizar lencinhos na cabeça, imitando as portuguesas recém chegadas, sem saber que na Europa era coisa de pessoas piolhentas!

Na economia não é diferente. Basta um sujeito pensar diferente dos modismos do norte que já é olhado com desdém. “Onde já se viu ignorar as mais “modernas” idéias das grandes universidades americanas?” O termo pejorativo utilizado quando um economista brasileiro pensa sem pedir licença aos seres civilizados do norte é “jabuticaba”. Para nossos americanizados economistas, a deliciosa frutinha seria motivo de vergonha simplesmente por ser um produto tipicamente brasileiro.

O engraçado é que adoro essas frutinhas negras. Sou capaz de comer baldes inteiros de jabuticaba sozinho! Para mim, é uma das coisas mais deliciosas que existem!

Sou um amante das jabuticabas, tanto das frutas quanto da capacidade dos brasileiros em ter idéias novas. Por isso, este blog é uma homenagem singela a um dos maiores patrimônios nacionais: as jabuticabas!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Crise e Hegemonia

Os EUA despontaram como potência econômica ao final do Século XIX, na chamada 2ª Revolução Industrial. Ao contrário da 1ª Revolução Industrial, que teve a Inglaterra como pólo dinâmico, a conquista da hegemonia tecnológica norte-americana se amparou fortemente em recursos tecnológicos, envolvendo uma série de desenvolvimentos dentro da indústria química, elétrica, de motores a combustão, de petróleo e de aço.

O novo padrão tecnológico colocado em prática pelos EUA envolvia produção em larga escala e enormes quantias de capital. Desta forma, quando também temos em mente a maior eficiência e os menores custos de produção dos EUA, podemos compreender a impossibilidade de cacth up espontâneo por parte das demais economias de capitalismo atrasado.

O domínio deste padrão tecnológico e produtivo permitiu aos EUA a hegemonia política e econômica até meados dos anos 70, quando este modelo começa a entrar em crise e com a emergência de novos players Japão e Coréia, apoiados em políticas industriais bem construídas.

Diante desta crise, a manutenção do Império Americano apoiou-se na financeirização da riqueza e nos livres fluxos de capitais, que impôs a praticamente todo o globo. Vale lembrar que esta foi a mesma estratégia adotada pelos britânicos no final do século XIX, quando sua indústria entrou em declínio.

No entanto, com a gravidade da crise financeira é improvável que tenhamos o mesmo grau de abertura e alavancagem financeira, o que coloca em xeque a própria hegemonia dos EUA, ainda mais quando lembramos a disseminação tecnológica e criação de sistemas de inovação eficazes em boa parte da periferia, como na China, Índia, Coréia e Brasil. Os EUA encontram-se numa cilada, se sua indústria não é mais tão competitiva, a ponto de sustentar um império como outrora, também a possibilidade de manter a hegemonia com base nas finanças não existe mais.